Mãos ao ar

Blogue de discussão desportiva. Qualquer semelhança entre este blogue e uma fonte de informação credível é pura coincidência e não foi minimamente prevista pelos seus autores. Desde já nos penitenciamos se, acidentalmente, relatarmos uma informação com um fundo de verdade. Não era, nem é, nossa intenção.

sexta-feira, junho 11, 2010

Primeira regra da política


Começou por ser um rumor difundido em blogues e folhas de couve. Não ligámos muito. Hoje, o tema fez manchete no Record. Talvez seja verdade.
Afinal, esta é a primeira regra da política portuguesa: não acredites em nada até ser oficialmente negado!

terça-feira, abril 20, 2010

Conselhos para suportá-los

Estimado leitor,
Aproxima-se a festa do título daquele de que não se deve dizer o nome. Até há quem sugira que a pluma de cinzas que assola a Europa foi criada pelo pó dos cachecóis cheios de naftalina. Das prisões aos reformatórios, não faltam pois adeptos desejosos de festejar. Muitos quererão seguramente partilhar a alegria consigo. Não se misture. Lembre-se do provérbio indonésio: basta um pouco de veneno para estragar o leite todo. Deixo-lhe por isso algumas sugestões criativas para evitar olimpicamente aqueles que se aproximarão de si nos próximos dias, desejosos de um abracinho. Se seguir à risca estes conselhos, garanto-lhe que ninguém o aborrecerá.

A abordagem artística

Coloque a combinação da avó na cabeça, emita o piar de uma coruja-das-neves e finja ser uma instalação da Joana Vasconcelos. Tenha particular atenção e recuse todas as ofertas de aquisição do Joe Berardo.

A abordagem tecnológica

Quando alguém se cruzar consigo, queixe-se insistentemente que está sem rede.

A abordagem discursiva
Diga que o “título”, o “futebol” e o “Benfica” são meros signos da semiótica peirciana, utilizados como significantes em relação à realidade física a que se referem, que é o significado, ou o referente, e que as relações entre significantes e significados tanto podem ser denotativas como conotativas, pressupondo um código que estabeleça, dentro de uma dada comunidade, a totalidade das relações entre significantes e significados, por forma a tornar possível a interpretação dos signos. Persiga os seus interlocutores pela cidade entoando a plenos pulmões o capítulo 3 da obra de C. W. Morris.

A abordagem gímnica

Desloque três vezes por dia o esternocleidomastoideu esfenóide e diga que isso se pega.

A abordagem Armando Vara
Diga que não sabe de nada, que desconhece os factos por completo, que é a primeira vez que ouve falar do Benfica e que, mesmo que alguém o tenha escutado a dizer o contrário, desconhece por completo. Diga ainda que a essa hora nem sequer estava em Lisboa. Aliás, em reflexão, nem tem a certeza se Lisboa será uma cidade real ou um produto da sua imaginação.

A abordagem Manuel Godinho
Distribua caixas de robalos em troca de silêncio.

A abordagem bifidus activo

Diga que é o decapitador de São Marcos e que está a gozar a primeira liberdade condicional desde que enfiou a cabeça da mamã no congelador e guardou o resto do corpo encasulado em espuma de poliuretano para comer à merenda.

(aceitam-se soluções adicionais para aumentar a oferta deste post)

segunda-feira, abril 19, 2010

A adepta fiel


Conheço uma pessoa que considera estupenda a gestão de José Eduardo Bettencourt (JEB). Bom, serão duas, se contarmos com o próprio JEB, mas, para efeitos práticos, concentremo-nos nesta primeira pessoa.
Para a minha mulher, JEB é o melhor presidente que o Sporting já teve. Mesmo as medidas mais controversas merecem o seu aplauso vigoroso.
O plano de reestruturação financeira do Sporting? Ela concorda.
O reforço da equipa de futebol? Ela subscreve.
A política de comunicação e intervenções públicas a despropósito? Ela aprecia.
A capacidade de devorar directores desportivos e treinadores? Ela apoia.
Se JEB decidisse vender o centro do relvado para ali instalar uma daquelas gengivas nucleares, ou lá o que é, ela aplaudiria igualmente.
Na verdade, em menos de um ano de exercício, JEB conseguiu uma proeza difícil de igualar: desmobilizou-me. Desde Dezembro que deixei de ver bola. Dizem-me insistentemente que o Benfica está à frente do campeonato e até já ganhou ao Sporting, mas pode ser só um rumor. Eu, pelo menos, não vi.
Por isso, agora vou ao teatro. Ao cinema. A exposições. Janto mais vezes na minha sogra... [note-se, nestes tempos de canibalismo voraz, que eu janto na minha sogra e não a minha sogra]. Já não digo palavrões na sala e até já tenho opinião sobre a Arte Contemporânea (sou contra!). Pode dizer-se que sou uma pessoa melhor graças ao JEB.
Nas eleições do ano passado, o proto-candidato Pedro Souto acusou JEB de nunca ter sido número 1 em lado nenhum do seu percurso profissional anterior ao Sporting. Em contrapartida, o presidente do Banco Santander lamentou “a perda de um extraordinário gestor”. Na altura, era difícil avaliar quem tinha razão. Hoje, se o leitor encostar o ouvido ao solo, como fazem os índios, ainda conseguirá ouvir as sonoras gargalhadas provenientes do conselho de administração do Santander. O JEB era o activo tóxico do banco.
A existirem, as ideias de JEB para o Sporting são um pouco como as escadas do MC Escher, que os leitores mais cultos (como eu) reconhecerão certamente como um representante da mesma escola artística do MC Hammer, do MC Snake e do WC Pato. Quando parece que as escadas estão por fim a chegar ao destino, volta-se ao início, num movimento que explora as possibilidades do infinito. E isso, parecendo que não, chateia aqueles que gostavam que a escada se definisse por algum destino.

sexta-feira, março 26, 2010

Era mesmo necessário criar esta notícia hoje?



Os gestores de meia tigela costumam citar Sun Tzu e "A Arte da Guerra". Parece-me oportuno recuperar uma passagem menos conhecida da obra chinesa, muito apropriada para o presidente do Sporting:
"Se algum dia estiveres atolado na tua própria trampa, e o inimigo estiver em superioridade em todas as frentes, e as tuas tropas estiverem mais desmobilizadas do que nunca, evita fazeres mais merda, apesar da tentação e da tua própria predisposição para o disparate. Vais ver que o fundo do poço é um conceito muito relativo. Podes sempre cair mais uns metros." – Sun Tzu

terça-feira, março 23, 2010

Ajudar a Lusa



Creio que ainda é possível alimentar mais dúvidas neste despacho noticioso. Sugestões:
"Talvez de Burgos,, alegadamente em Espanha, 22 março, embora sujeito a confirmação (Lusa) - A Guarda Civil Espanhola, ou uma organização com um nome semelhante, anunciou hoje que até é possível que tenha detido sete alegados jovens, presumivelmente portugueses, em Briviesca, por alegados roubos numa área de descanso possivelmente situada na autoestrada que eventualmente ligará Burgos a Arminón. Falou-se também em agressões, mas a Lusa não conseguiu encontrar ninguém que fosse capaz de fornecer o número de bilhete de identidade e de contribuinte dos agressores, pelo que é prematuro falar já nesses termos.
É possível que os jovens, com idades entre os 19 e os 27 anos, viajassem numa carrinha alugada. Houve quem dissesse que regressavam a Portugal oriundos de França, mas não há imagens de satélite que o possam confirmar. Presumivelmente, foram assistir ao Marselha-Benfica, da Liga Europa de futebol, mas a Lusa não sabe se esse jogo se realizou ou até se existem clubes com esses nomes.
A Lusa requisitou entretanto a planta do alegado estádio para poder confirmar que existe de facto um Velodrome de Marseille, mas desligaram-nos o telefone e ameaçaram fornecer o nosso nome ao casting do programa do Goucha.
A detenção do grupo de adeptos ocorreu às primeiras horas da manhã de sexta-feira, ou pelo menos foi isso que nos disse um senhor que passou por lá e é filho de um doutor, por isso não deve estar a mentir. A Guardia Civil espanhola recebeu uma chamada dando conta de um roubo cometido na área de serviço de Ameyugo. Os mesmos alegados sete jovens serão também responsáveis por assaltos no ano passado, a caminho de outro jogo do alegado Benfica, mas isso parece pouco provável porque, como toda a gente sabe, os adeptos do Benfica não roubam nem espancam.
A Lusa aproveita para esclarecer que é absolutamente falso, ou melhor, alegadamente falso e até presumivelmente incorrecto, que se possa falar em assaltos sem apresentar um contraditório que confunda a interpretação de qualquer pessoa com um mínimo de inteligência, bem como do Sílvio Cervan . Afinal, aquilo que, para uns, é um assalto pode ser descrito sem esforço como uma redistribuição do capital e dos meios de produção.

Concluo: parece que no Cretácico Inferior já houve jornalismo na Lusa, mas agora já não há. E é pena.

sexta-feira, março 12, 2010

Classe

Aqui.

Motivo de orgulho. 11 de Março de 2010.

quarta-feira, março 10, 2010

A este ritmo eu não consigo...

Eu vou tentar escrever isto sem me rir. O diabo de Gaia, lembram-se? O do pano da louça na cabeça? O que deu um calduço ao bandeirinha em 2008? Pois foi preso esta manhã.
Pensarão os senhores que foi consequência da invasão de campo e da agressão consumada a um agente desportivo em 2008, mas estarão errados: em Portugal, invasão de campo na Luz não dá cadeia. Dá só direito a ser entrevistado pelo “Expresso” e a ser filmado pela televisão nas bancadas dos estádios para as quais se está impedido de entrar.
A maior parte da população tem de fazer qualquer actividade extraordinária para ser capa do “Expresso”, como trabalhar 35 anos junto de uma população de chimpanzés, inventar uma cura para os joanetes ou aprovar a construção de um free pork. O diabo de Gaia só precisou de agarrar um bandeirinha pelo cachaço. São critérios.
Segundo o “Expresso” de hoje, uma mediática operação policial permitiu a "apreensão de 10 litros de aguardente, 20 litros de uísque e 155 litros de licor". É possível que fosse apenas a merenda do senhor para o resto do dia, mas o “Expresso” não conseguiu confirmar.
O homem a quem o “Diário de Notícias” chamou “pacato” em Dezembro passado, Fernando Seara chamou “tranquilo” e a esposa chama “o meu pequeno javardo” transportava uma arma de caça, um revólver, uma pistola e uma arma de alarme. Chamem-me esquisito, mas dá impressão que o Fernando Seara é o pior avaliador de carácteres da história. Pior, talvez, só a professora de liceu do Hitler, que lhe disse para se envolver mais nos projectos.
O motivo da detenção terá sido mesmo o transporte de 30 mil maços de tabaco de diversas marcas. Carlos Santos terá ainda argumentado que seriam para consumo individual, argumento que convenceu durante alguns minutos o GNR de serviço, mas a verdade é como um cadáver afogado numa lagoa de retenção – vem sempre à tona. E assim tudo se conjuga para que Carlos Santos venha também a integrar a equipa de futsal do Benfica em Caxias.
Julgo que se justifica uma palavra de apreço para o trabalho do homem que tiver de relatar os próximos jogos entre reclusos com passado ligado ao clube encarnado. Não será fácil. “A bola segue para o Violador de Telheiras. Hesita. Hesita. Solta para o Diabo de Gaia. Impetuoso, ele arranca para cima do defesa. Tem o Serial Killer de Santa Comba Dão solto à esquerda. Mas ele insiste, direito à jugular do adversário. Pela direita, sprinta Vale e Azevedo, mas era uma promessa falsa. Há dois sanguinários na área, prontos para receber o centro venenoso, e um burlão na meia-lua, pronto para o que der e vier. Mas o diabo de Gaia, depois de tanto prometer, faz uma festinha ao guarda-redes e pisga-se a correr...”

terça-feira, março 09, 2010

Podia ser meiguinho, mas não era a mesma coisa!

Imagino que já assistiram a documentários de exploradores intrépidos, daqueles que se aventuram pelo mais árido deserto e são forçados a comer o que está à mão. Invariavelmente, quando alguém nessas circunstâncias come carne de barata ou de rato, diz sempre que sabe a frango. É um padrão que se repete e que teima em não ser confirmado pela experiência. De certa maneira, é parecido com o dos vizinhos dos serial killers, que nunca vêem nada e lembram invariavelmente que o estripador que com eles conviveu parecia tão calmo, e não era nada dessas coisas, pronto, lá teria as suas manias, e de facto, agora que penso nisso, nunca mais vimos a Dina do minimercado aqui no bairro, mas o sotôr não parecia dado a javardices, não senhor, quem imaginaria uma coisa destas, logo ele, que até tinha óculos, isto, menina, sabe o que lhe digo, os casados são os piores…
Bem sei que vos prometi que punha a tranca na porta da chafarica, mas em situações de alarme público, é missão do cronista sério e imparcial tomar as rédeas da situação e apascentar a multidão. À falta de um cronista sério e imparcial, vejo-me na obrigação de ser eu a denunciar um padrão que os media vão calando.
Recordar-se-ão da discussão sobre o serial killer de Santa Comba Dão (aqui). Só este farol bravo e intrépido de moralidade que é o Mãos ao Ar foi capaz de lembrar então que o cavalheiro em causa, entre facadas e esventramentos performativos, lá arranjou tempo para assumir a presidência da Casa do Benfica de Santa Comba Dão. Disse a imprensa que o laço associativo seria um escape para a vida de perversão, mas é bem provável que fosse a pancada sexual o escape para os serões passados na Casa do Benfica. Livra! Sete noites por semana entre gente daquela levariam qualquer um a esventrar alguém só para espairecer.
Pois bem: começa a conhecer-se melhor o perfil do violador de Telheiras. É engenheiro do Técnico, soube-se no próprio dia da detenção. Coleccionava moedas. Trabalhava na assistência da Zon, o que explica seguramente o motivo pelo qual a minha Internet funciona aos repelões. Lá diz a minha avó: entretêm-se com porcarias e o trabalho fica por fazer.
Era o moderador de um fórum de numismática, indício mais do que suficiente para sugerir disfuncionalidades. E... ahum... era benfiquista, conta o jornal I.
Começa a ser necessário abordar esta questão das taras sexuais pelo ângulo clubístico. Eu não quero meter o bedelho na casa dos outros, mas alguém vai ter o fazer. Quero acreditar que há pelo menos um adepto nessa bancada que não precisa de dar uma marretada na cabeça das meninas para levar a sua avante, mas os senhores não me estão a facilitar a vida.
Não sugiro com isto que todos os benfiquistas venham, mais dia, menos dia, a merecer o confinamento forçado numa cela de 4x4. Não quero insultar a inteligência dos leitores. Para falar verdade, nem me lembrei de presumir que a tivessem. Mas terão um dia de perceber que isto do jogo do engate não se ganha como os senhores estão habituados a ganhar no estádio, ao pontapé e infringindo as regras.
Eu próprio também tenho problemas de erosão, mas ando a tomar Viagra para ver se passa.

Post Scriptum: comenta o Virgílio, na caixa de comentários aqui de baixo, que o caso revela os fracos critérios de contratação da Zon. Concordo. Que contratem estupradores ainda vá que não vá. Que assinem contrato com benfiquistas... enfim, já não me parece tão bem, mas aceita-se. Agora, quando contratam numismatas, estão mesmo a pedi-las. Isso é brincar com o fogo!

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Continuo reformado, mas...

isto merece uma rápida interrupção. O Fantasma, para além de louco, é um fulano à maneira. A ver se quando chegar o Natal não me esqueço de lhe mandar um daquele postais da UNICER, ou lá o que é, porque ele merece. Um grande abraço, meu caro.
Gostaria de dizer duas coisas marcantes e sensatas às pessoas generosas que deixaram mensagens na caixa de comentários anterior. [pausa] Humm. À falta de coisas sensatas e marcantes, farei como os malucos e direi as duas primeiras coisas que me passarem pela cabeça.
A primeira... Hum... A primeira é que não fazia ideia que isto chegava a tanta gente. O Mãos ao Ar serviu apenas para verter meia-dúzia de palermices e sublimar frustrações. Não era suposto ter fãs. Por isso, por amor de Deus, parem de mandar peças de roupa interior para o apartheid do blogue. Já estou vestido para o Inverno e, para ser franco, não estou convencido que os leggings me fiquem assim tão bem...
A segunda é mais profunda. Os senhores e senhoras estão a fazer-me mal. Não sei se repararam, mas eu tenho apenas um ídolo – eu. Como Woody Allen disse de Norman Mailer, quando morrer, também vou doar o meu ego a uma faculdade de medicina. Parem. Estou a falar a sério. Vão elogiar o Abrupto do Pacheco ou o site do Instituto da Água.
Abraço, malta.

P.S.: Daqui para a frente, encontrar-me-ão por estas paragens. Vão espreitando.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

That's all folks!



Foi um privilégio trocar umas larachas com os senhores desde Outubro de 2005, mas chegou a altura de eutanasiar o Mãos ao Ar. Infelizmente, a transposição para livro dos delírios aqui acumulados foi vetada por uma editora. Mas não lhe desejamos mal, longe disso. (Pausa).... Moooorrrreee, mooooorrrre, serva do diabo, escriba do inferno, ardeeeee! (recompondo-se). Hrumm, hruum. Dizia que encarámos muito bem essa recusa e seguimos em frente com as nossas vidas. Afinal, que importância tem isso no grande ciclo da vida? (Pausa) Borbulha no caldeirão da traição, bruxa. Que todas as doenças venéreas irrompam pelos gabinetes da tua editora! Vais publicar livros do Mário Crespo até ao fim da vida. NÃO TEM QUALIDADE? Moooooorrrrre! Ahumm... Onde é que eu ia?.
Falta desvendar esse segredo de Estado que era a identidade real dos dois autores. Mesmo sob escuta, mesmo com a Felícia Cabrita a vasculhar o nosso caixote de lixo e a fazer jornalismo do bom, o segredo resistiu até hoje. Cá vai então a chave, encriptada à la Dan Brown já se vê, pois lá diz o Rito Escocês Antigo e Aceito da maçonaria que só os puros de espírito podem ter acesso à Verdade. À Verdade e a expulsões dos adversários aos cinco minutos de jogo.
Um momento. É só desenrolar o papiro. Cá vai: se cruzarem a letra da música "O Chico Pinguinhas", da Tonicha... Estão a tomar nota? Se cruzarem a letra da música com a informação encriptada nas fotografias da Clara Pinto Correia a sonhar com orgasmos e golos de cabeça ao segundo poste, verão como a resposta esteve sempre à vossa frente.
E pronto!
Deixarei a caixa de comentários do blogue sem moderação, não vá uma das senhoras querer deixar uma proposta indecente a altas horas da madrugada e não ter um fórum disponível. Ao resto dos utilizadores: vejam lá isso. Se abusarem, eu mando a conta para o "Sol". Assim como assim, eles já vão ter tanta coisa para pagar que talvez saldem essa factura sem querer, como se faz aos árbitros no Porto.
Recordo que atendo no Saldanha, depois do expediente. Cavalheiros e senhoras. Discrição e bom gosto. Desportos aquáticos e barbatanas. Sueca, canasta e kemps.
Até à vista.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Recorde em ano para esquecer

É paradoxal, mas no pior ano de que tenho memória do futebol profissional do Sporting realizámos a mais longa série de jogos sem perder (nove) da história. É para continuar amanhã?

Em jeito de inspiração, o Sporting Memória colocou online o video de um dos resumos de que eu andava à procura há mais tempo. Foi em 1982. O Sporting recebeu o Dinamo de Zagreb e António Oliveira soube no próprio dia do jogo que o pai falecera.
Marcou três golos. Aqui.

sexta-feira, novembro 27, 2009

Follow the money

É dos livros que o género humano foi avançando inexoravelmente, na grande marcha de evolução como lhe chamou o poeta, que nos levou da savana africana até aos corredores do Lidl, onde procuramos desesperadamente as diferenças entre o detergente da roupa e o leite em pó para o miúdo (Esse erro, garanto, já não cometo outra vez, mesmo que o miúdo volte a pedir aquela papa que o fez ver grandes monstros psicadélicos nas urgências do hospital).
Mas, dizia, do Australopithecus para o Homo habilis, do Homo habilis para o Homo erectus, do Homo erectus para o Homo sapiens, do Homo sapiens para o Omo Multiacção Active Clean (com opções de lixívia em pó ou concentrado), tem sido uma jornada entusiasmante. Infelizmente, porém, é uma infelicidade da época que os doidos guiem os cegos. A frase, compreenda-se, não é minha. É de Shakespeare e, quando ele a escreveu, não imaginava que a literatura agora estivesse a cargo de pivots de televisão e lunáticos com a mania das grandezas. E isto só para referir José Rodrigues dos Santos.
Tenho medo do jogo de amanhã. Corrijo: tenho muito medo. Há semanas que ando a marinar um plano e quem me conhece sabe que me custa muito marinar. Normalmente, é tarefa que deixo para o Oceano Cruz, pois é ele que a tem em casa e eu até me dou mal com farinheira. Continuando: preciso de encontrar uma forma de não sofrer amanhã. E há uma forma disponível que só me custará a alma. Nada mais.
Cá vai: entrei no site da Bwin, registei-me e apostei 150 euros na vitória do Benfica (2,15 euros por cada euro investido). Custa um bocadinho, mas há um racional por detrás disto. Caberá aqui porventura abrir um parêntese: ( ). Já está. Continuando. O racional é o seguinte: tenho um colega a quem chamarei Henrique, em boa medida porque é esse o seu nome próprio. E o Henrique, e outros como ele, estão insuportáveis. E falam em goleadas. E em humilhações. E em desistências por falta de comparência.
Pareceu-me que chegara a altura de pôr o dedo na Frida [Kahlo]. Até agora foi a vez do Diego Rivera, mas está na altura de passar o testemunho, até porque ela já não vai para nova. Nem para viva.
Investindo na vitória do Benfica, ganho de qualquer maneira. Se o Sporting ganhar, serão os 150 euros mais úteis que já gastei e nem penso mais nisso, excepto se a mulher descobrir. Nesse caso, contrariado, terei de voltar a pensar nisso. Se o Sporting perder, enquanto os Henriques deste mundo gritarem, e esbracejarem, e festejarem, e arrotarem, e se engasgarem, eu estarei a contar os meus 322,50 euros, preparando já nova aposta encarnada no jogo de Barisov. Tanto mais que, pelo andar da carruagem, o bom povo português estará entretido a contar tostões até ao fim do mês e a fazer o tradicional passatempo para ver o que acaba primeiro – o mês ou o dinheiro. E eu estarei mais próspero.
Falta-me só uma lógica para superar um indigesto empate.

quinta-feira, novembro 19, 2009

Diálogos na cabana

À meia hora de jogo.
Ela: então, assim quem é que passa?
Eu: Pela terceira vez, nós. Ganhámos, quer dizer, o Queiroz ganhou cá 1-0. Por isso, passamos nós.

Raul Meireles marca golo.
Ela: Então, agora já estamos à frente?
Eu (suspiro): Já estávamos. Se acabasse 0-0, o Queiroz também se qualificava.

Mais à frente.
Ela (pensativa): Mas se eles agora marcarem passam?
Eu (suspiro mais prolongado): Não. Ficaria 1-1. Nós ganhámos cá, lembras-te?

Perto do fim.
Ela: Ainda bem que eles não marcaram. No prolongamento, isto podia ser difícil.
Eu (resignado): E jogar mais trinta minutos neste campo de batatas não ajudaria.

Conclusão: apesar dos muitos dons que Zeus atribuiu às mulheres, ficou em falta o mais importante - o que permite perceber a regra dos golos marcados fora nas competições europeias.

sábado, setembro 26, 2009

Detesto ter razão nesta matéria...

... mas tive e voltarei a ter se a opção for repetida.

Já agora, se o Ricardo Peres, de facto, trincou a namorada do Duarte Gomes, devia ser do ordenado dele que saía o dinheiro para pagar as suspensões do Polga, do Veloso e do Paulo Bento. Era mais justo!
Se eu mandasse, resolvia-se assim:
Puto Duarte, dá um murro ao puto Ricardo. Pronto! Já estão quites.
Agora não fod** o Sporting, que não tem culpa nenhuma.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Inspirem-se, rapazes

Foi há 22 anos. Deu porrada de meia-noite. Mas valeu a pena. (aqui)

terça-feira, setembro 22, 2009

Carta aberta a Paulo Bento

Meu caro Bento,
És uma das mulas mais teimosas que já conheci. Isto é uma qualidade, atenção. Colocados na arena perante a ameaça do touro, há genericamente dois tipos de homem: o que perde o controlo do esfincter e treme como varas verdes e o que sente o sangue a gelar nas veias, mas arregaça as mangas e não se desvia um milímetro da besta. É por isso que há forcados que pegam o touro de caras e há outros que ficam para rabujadores. Toda a bancada reconhece que tu pertences ao primeiro grupo e o teu antecessor nem para o segundo servia.
Tens regras e códigos de conduta que cumpres escrupulosamente. Tens ideias e conceitos dos quais não abdicas. E tens uma filosofia que pode não ser popular, mas é coerente. Não tens porém aquilo que o Ângelo Correia definiu muito bem no “Sol” da semana passada: falta-te... mundo. Conheceres o mundo, saberes o que se faz noutras realidades e como se faz.
Teimas com a aposta na dupla Carriço-Polga desde Novembro do ano passado. Quanto mais a bancada protesta, mais tu fincas os pés na areia e marcas posição. É essa a dupla que te parece mais capaz e dela não abdicas nem que chovam picaretas. Já te chamámos todos os nomes e já te cuspimos, mas tu preferes quebrar a torcer.
Vou-te contar uma história. Em rigor, não fui eu que a inventei. Foi o Hemingway, que também percebia de touros, de whisky e de gajas (por esta ordem). Em “O Velho e O Mar”, há um pescador tão teimoso como tu. Chama-se Santiago e está em maré de azar. Nunca desiste, porém. Um dia, deita o anzol ao mar e captura o maior espadarte que já viu. O peixe morde, e puxa, e resiste. E o Santiago não larga a cana. O peixe puxa-o para o mar alto, quase afunda a embarcação. E o Santiago não larga a cana. Quer mostrar aos outros que tem fibra e convicções. Faz-te lembrar alguém?
O peixe enraivecido puxa o anzol. Leva o barco para o mar alto. As mãos do pescador já estão em sangue. O Sol inclemente queima-o. E o Santiago não larga a cana. Pelo caminho, aparecem tubarões. Rondam a presa. Debicam-na. E o Santiago não larga a cana. Com toda a força, puxa-a para terra, onde descobre que os tubarões lhe deixaram apenas a espinha do espadarte. Santiago ganhou a batalha da resolução, mas percebeu que há alturas em que é mais útil largar a cana.
Por amor de Zeus, desfaz a dupla defensiva. Senta o Polga ou o Carriço no banco ao teu lado. Coloca o Tonel em campo.
Larga a cana. Nunca levarás esse peixe intacto para terra.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Brilha luz ao fundo do túnel do Sporting?



Sim, é um comboio que circula na direcção contrária.

segunda-feira, setembro 14, 2009

“(…) Nos chamados macacos-jantareiros, à semelhança do que sucede nos idiotas, os sinais d'alegria aumentam quando a comida é de borla, ou em casos pagantes, quando o criado do restaurante errou a conta para menos. Mais: substituindo alguns dos pratos por palha, o animal dá profundos sinais d'irritação” – Fialho de Almeida

Tinha Mário Patrício, director-desportivo do Sporting com o pelouro das modalidades, como mais um dos macacos-jantareiros de que falava o Fialho, alguém que encontrara mais uma maneira de sugar do Sporting um ordenado e reconhecimento público. Chegou-me entretanto às mãos o livro “Casos de Sucesso em Marketing Desportivo” (Livros d’Hoje) onde foi incluído um ensaio de Patrício sobre o eclectismo. Como acontece com muita frequência a Pina Moura e a mim, mudei radicalmente de opinião. Há ali material para reflexão.
A argumentação assenta numa premissa curiosa: ao hiato futebolístico entre 1982 e 2000, a que em Alvalade chamamos o “período da Grande Fome”, não correspondeu uma quebra de fervor associativo, muito por culpa dos êxitos das modalidades. Patrício defende convincentemente que o Sporting não se desmembrou então porque o associado continuou a rever-se nos feitos olímpicos do atletismo e nacionais do ciclismo, do andebol e do hóquei. Ora, a extinção de três modalidades de pavilhão em 1995, o progressivo desinvestimento nas duas restantes (futsal e andebol) e a demolição do velho estádio e da Nave afastaram muitos associados do clube.
O Sporting futebolizou-se como nunca, e o jejum desportivo iniciado em 2002 é agora acompanhado pela desmobilização de adeptos que não têm praticamente mais nenhuma muleta de apoio. Por muito que respeitemos o ténis-de-mesa ou o futsal, ganhar troféus a agremiações de bairro como o Novelense, o Freixieiro ou o Benfica não tem qualquer relevância. É consensual portanto que falta recuperar as modalidades clássicas de pavilhão e dotar as respectivas equipas de meios para ganhar.
Aí é que a porca torce o rabo. Em Março, o Sporting encomendou um inquérito de opinião aos associados e descobriu que a maioria quer um novo pavilhão e perto do estádio; quer mais modalidades colectivas; aceita o princípio de que as modalidades devem continuar, mesmo sem patrocinadores. Mas recusa esmagadoramente que se sacrifique o orçamento do futebol em nome do eclectismo. Por outras palavras, queremos (sou um dos associados que respondeu ao inquérito) o jantar e não o queremos pagar.
Fica, pois, o paradoxo: numa altura em que as muito badaladas gameboxes do andebol e do futsal venderam menos de cem unidades, o que queremos do eclectismo? A relação do associado do Sporting com o ecletismo tornou-se um pouco como a relação do lisboeta com a Sé: ninguém lá vai, mas sentimo-nos todos um pouco melhor porque ela lá está.
No fundo, adaptando o Fialho, não somos mais do que “a turba acéfala, alternadamente feroz e sentimental (tarada em todo o caso), que faz as vezes de povo – uma força de inércia sem a menor consciência de si própria e que, no estado de bestialidade africana em que jaz, tão cedo não pode ter papel na marcha” do clube.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Limites do que posso dizer

Uma multidão de comentadores credíveis, perfumados e bem documentados, mais o Pietra e o Diego, questionaram as minhas motivações, alegando que escrevo sobre o Benfica genericamente com três intenções: por um lado, para sublimar uma tragédia antiga, que deixou cicatrizes profundas naquilo que Freud chamou o meu espírito humano (em rigor, Freud falou só do espírito humano dele, até porque não nos conhecemos bem e ficar-lhe-ia mal falar do espírito dos outros assim, sem mais nem menos). Em segundo lugar, alega-se que escrevo sobre o Benfica porque me roo de inveja de tudo o que se passa naquela casa, e gostava de ser como eles, e o João Gabriel tem a capacidade discursiva de Moisés na fase do mar Vermelho e mais não sei o quê. Por fim, escrevo sobre o Benfica porque – e cito de memória – sou um anormal. Para rebater estas teses, sobretudo a terceira, terei de ensaiar algumas ideias sobre a origem e função do humor. Prepare-se, pois, para um dos textos mais chatos que alguma vez lerá.

Imagine o cenário: à porta de uma igreja onde se realizam reuniões periódicas de grupos de auto-ajuda, alguém cola um cartaz com esta inscrição: “Nota para os participantes na reunião do Grupo de Apoio às Pessoas com Falta de Auto-Estima: usem por favor a porta das traseiras”. A mensagem, como qualquer outro texto, está sujeita a diversas interpretações. Pode ser uma formulação infeliz mas bem intencionada de um recado útil. Pode ser intencional, destinando-se a aliviar o constrangimento dos participantes. Pode ser intencional e maldosa, marcando a superioridade daqueles que não necessitam de ajuda. E pode não ser intencional, mas divertir na mesma pela sua incongruência e inadequabilidade. Peço portanto aos senhores que não generalizem a minha suposta velhacaria em função de um só texto. E todos os que o fizerem são parvos (só eu é que posso generalizar, está bom de ver).
Os políticos usam o humor no seu discurso com duas funções básicas: para unir a sua audiência em torno de uma causa ou para a separar da oposição, ridicularizando as suas posições. Se eu quiser juntar toda a gente que me lê — e nesta fase do texto, “toda a gente que me lê” estará reduzida a quatro pessoas que já não conseguiram comprar o “Público” e lamentaram não haver mamas na capa do “24 Horas” –, faço uma piada sobre o Queiroz. Se eu disser: “Uma vez iniciados, os discursos do Queiroz nas conferências de imprensa são a coisa mais parecida com a vida eterna que existe no Planeta”, tenho boas probabilidades de não chatear ninguém. Mas não o faço. Pela lei das probabilidades, deverá haver muito mais benfiquistas neste espaço do que adeptos de outros clubes. Logo, um texto sobre o Benfica é um acto de valentia. Também é cobarde porque me refugio num pseudónimo, privando os senhores da oportunidade de me açoitarem, o que, convenhamos, seria merecido, mas é uma espécie de valentia cobarde, como a do Guterres quando se pisgou para os refugiados ou a dos refugiados quando quiseram devolver o Guterres. E isso deveria ser sublinhado.
Por outro lado, as pessoas riem-se abertamente dos outros quando sentem uma certa superioridade. Rir da ignorância alheia é uma reminiscência do papel do bobo da corte, que educava os cortesãos através do riso, reforçando pela demonstração o que era, ou não, tolerável. Ora, como os adeptos do Sporting e do FC Porto bem sabem, somos muito superiores aos benfiquistas. E não me refiro só às questões de higiene ou ao conhecimento adquirido sobre a posição certa em que o ser humano deve conquistar o bidé. Somos um grupo superior, essa é que é a verdade. Num país grande como o nosso, com fronteiras sempre em mutação, onde se falam mais de cem línguas e dialectos e onde não há uma religião maioritária, é fundamental marcar as diferenças entre gente que vive a meia-dúzia de quilómetros uns dos outros.
Por isso, estigmatizo o inimigo, inventando características que ele seguramente não tem, como o bigode, os arrotos, os fatos-de-treino, o José Manuel Delgado ou o facto de terminarem quase sempre em terceiro lugar. Faz parte de uma estratégia pérfida para impedir o leitor de constatar a grandeza do Benfica.
Fica feito o esclarecimento.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Eu, na piscina do Sporting

Eu: Ó menina.
A recepcionista do Multiusos do Sporting: Humm?
Eu: Lembra-se me de ter dito que o meu relógio aguentava bem a água da piscina?
Ela: Humm?
Eu: Pois aconteceu uma de duas coisas.
Ela: Diga.
Eu: Na primeira hipótese, o relógio efectivamente parou. Estragou-se. Entregou a alma ao Criador.
Ela: O quê?
Eu: Na segunda hipótese, talvez mais perturbadora, o tempo, na concepção einsteiniana, tomou a mesma forma em todos os referenciais inerciais, tornando-se relativo como conceito operacional.
Ela: Não estou a perceber.
Eu: Sendo t o tempo de ida medido pelo observador em repouso em relação ao relógio que se afasta para a direita com velocidade v, a distância entre os espelhos, ct, permite antever que um intervalo entre dois acontecimentos que ocorrem no mesmo ponto de espaço, s e t, e o intervalo de tempo entre os mesmos dois acontecimentos que ocorrem em pontos diferentes do espaço, é variável. Ou seja, o tempo dilata.
Ela: Mas o que é que pretende?
Eu: Gostava que percebesse que o observador de s vê o tempo dilatado em relação ao tempo próprio medido em s’.
Ela: Mas eu não percebo nada do que me está a dizer.
Eu: Menina, ou o tempo parou à 1 hora e 40 minutos de hoje e isso quereria dizer que o futuro daqui para a frente será um eterno presente, ou a merda do relógio estragou-se com a água da piscina.
Ela: Ah! As reclamações são ali naquele balcão.

terça-feira, setembro 08, 2009

Eu vi um sapo


Há muitos anos, deixavam-nos fazer uma experiência bárbara nas aulas de Física. Tínhamos um tacho cheio de água ao lume e colocávamos no interior um sapo. Se aumentássemos bruscamente a temperatura, o sapo pisgava-se pela janela e, enquanto agitava as membranas interdigitais, quase jurava que proferia a frase “Eu é que não sou parvo!”. Mas se aumentássemos gradualmente a temperatura, o sapo imitava o Polga e não se mexia. Mais quente: 70ºC, 80ºC, 90ºC. Nada. O que acontecia aos 100ºC? Duas coisas: a água fervia e o sapo cozia. (se só adivinhou metade da pergunta, passe por favor nos recursos humanos e peça um livro bonito para colorir enquanto eu acabo de contar a história). O sapo ficava estupefacto com o que lhe estava a acontecer e não esboçava reacção. Não tinha nos genes resposta para uma degradação faseada do seu ambiente. Pois eu proponho aos senhores que os adeptos de futebol também não. Mas já lá vamos.
Conhecem-se por fim mais peças do enigma financeiro que constituiu o Verão do Benfica. Luís Filipe Vieira reconheceu ontem que os 25 milhões gastos no mercado durante o Verão foram concedidos por uma instituição financeira, que aceitou o contrato publicitário com a Sagres como garantia. Evoluímos do “são capitais próprios” e do “Benfica não precisa de se financiar” para uma tese mais verosímil. É como o Cergumil: custa um pouco a engolir, mas vai fazer bem.
Não é pecado, reconheçamos. Quando o Benfica olha para o espelho, vê nele reflectido uma caricatura do Real Madrid português, uma obsessão deslocada com um prestígio europeu em farrapos e uma supremacia interna que se instalou de armas e bagagens no Porto. E sonha, como os velhos latifundiários bolorentos da província, com o antigamente e com o respeito que se esfumou. Como o adolescente que cola posters de pop stars na porta do roupeiro, o Benfica quer ser o Real. Está disposto a imitá-lo, a exibir os mesmos comportamentos extravagantes se puder provar um trago do cálice da fama.
No Norte da Tailândia, a cultura Karen (sem relação com o Jardel) acredita há várias gerações que a divinização celestial pode ser obtida através do sofrimento terreno. Por isso, desde tenra idade, colocam-se aros dourados no pescoço das meninas, de forma a alongar o pescoço, deformando irreversivelmente os ossos à custa da pressão. A partir de determinada idade, as senhoras já não podem retirar os aros, pois os ossos do peito foram esmagados e o pescoço não aguentaria a ausência de sustentação.
Há duas lições a retirar desta aula antropológica. A primeira, obviamente, é que foi um gajo a inventar este ritual e foi particularmente engenhoso porque postulou, logo à partida, que os homens não precisam dessas merdas – a divinização celestial pode ser obtida a ver a SporTV. A segunda lição é mais profunda: pode-se fintar a natureza durante algum tempo, pode-se imitar o que não somos, mas chega sempre uma altura em que temos de nos apoiar nos alicerces – sólidos ou frágeis – que forjámos.
Quando retiram os aros, as senhoras tailandesas morrem rapidamente. E ao Benfica, quando retirarem o crédito, o que ficará?
E os adeptos: percebem ou deixam-se cozinhar lentamente, como o meu sapo?

(Informa-se a estimada audiência que, para a realização deste texto, foram queimados quatro sapos com particular selvajaria. Este projecto foi financiado pelo VI Quadro Comunitário de Apoio aos Verdugos de Anfíbios).

terça-feira, agosto 18, 2009

In flagrante delicto

Discriminados pela sociedade desde tempos imemoriais e incapazes de granjear o apoio político do Bloco de Esquerda, os adúlteros foram forçados a desenvolver requintadas técnicas de argumentação desde que saíram das cavernas. Usam-nas nos momentos em que são apanhados com a mão na massa por assim dizer, ou in flagrante delicto como diziam os romanos, feras versadas nestas coisas requintadas do apalpanço de material alheio.
Corro aqui um grande ao risco, mas revelar-vos-ei uma lista de velhos argumentos usados para redefinir com sucesso situações embaraçosas. São palavras sábias, passadas de pai para filho, de avó para neta ou de pastor para ovelha, como uma fórmula secreta. Aproximem-se pois do monitor. Vou sussurrar-vos algumas dessas expressões que vos poderão salvar a vida. Todos ao mesmo tempo, não! Um de cada vez. E de preferência encostando apenas um ouvido ao computador, que eu gosto pouco de festinhas. Infelizmente, no caso do Luís Filipe Vieira, não temos um monitor suficientemente grande para acolher uma das suas orelhas. Tentarei pedir emprestado um daqueles ecrãs gigantes dos cinemas que, pelos meus cálculos, deverá ser apenas um pouco menor do que o apêndice auricular do presidente do Benfica. Cá vai então.
“Isto não é o que parece!”, é a frase mais popular, o santo-e-senha que o adúltero deve proferir quando é apanhado com as calças pelo tornozelo. Costuma resultar, sobretudo se o adúltero encontrar uma explicação plausível para o facto de ter a Teresinha, da contabilidade, nua na banheira, depois de ter previamente anunciado ao cônjugue que precisava da noite para rever os procedimentos de cobrança da empresa.
“Eu posso explicar” – é outro argumento muito agradável, normalmente usado pelo adúltero surpreendido e amarrado com algemas à cama de dorsel, envergando uma peça de roupa semelhante à da Madonna na tournée do Vogue (Não pensem que isto não acontece. É muito habitual aqui para o Lumiar. Segundo ouvi dizer.)
Ora, no passado fim-de-semana, David Luiz cometeu uma falta evidente que originou uma grande-penalidade. O defesa do Benfica colocou no caminho da bola um braço, dois cotovelos e uma madeixa de cabelos aos folhos, caída em desuso desde o primeiro álbum da Tonicha. Foi uma das faltas mais claras da história, evidente para todos os que não foram injectados com ampolas de Avastin ou água-raz (consoante as teses).
Apanhado in flagrante delicto, David Luiz ofereceu mais um contributo para o arsenal do adúltero contemporâneo. “Eu nem sequer me lembro se toquei na bola, quanto mais se o fiz com a mão”, disse, sem se rir. Se o deixassem, David Luiz continuaria, argumentando que nem sequer se lembra se estava em Lisboa àquela hora, quanto mais se estaria na grande-área do Benfica. Não convenceu, mas divertiu, o que, nos tempos que correm, já não é nada mau!
David, sobe ao palco para receber o troféu. Em nome de uma minoria de adúlteros com pouco jeito para mentir, venha de lá esse abraço. Tu és um dos nossos.

domingo, agosto 16, 2009

Odores da estação

Os manuais de navegação ensinam que, perante a iminência da catástrofe, um único homem (o comandante) deve tomar as rédeas da embarcação (péssima metáfora, péssima! Isto começa mal. Em termos desportivos, esta metáfora é equivalente a três passes falhados pelo Abel a dois metros do colega). Bem ou mal, cabe ao comandante decidir a rota e os procedimentos, obedecendo apenas ao seu instinto.
Em contrapartida, diz o mais elementar bom senso que, se todos os tripulantes expressarem abertamente a sua opinião, o navio tornar-se-á, sem dúvida, mais democrático. E terá todas as condições também de se transformar num naufrágio muito democrático.
Desconfio que há um comandante em Alvalade, mas não posso garantir. Os seus únicos sinais de vida são meros soluços que, ainda por cima, exigem interpretação externa por uma brigada semiótica que pese a significância de cada palavra e determine o que o senhor pretendia efectivamente dizer. Mas é possível que exista. Mesmo assim, correrei o risco de sugerir uma rota para evitar a catástrofe.
Cá vai ela.
Não sou daqueles que procura um bode expiatório como responsável pelos desaires. [Pausa para os senhores acabarem de rir. Muito obrigado]. Mas vou abrir uma excepção: a culpa de todos os desaires que o Sporting sofreu nos últimos 12 meses é do Polga. Isso mesmo, do único jogador campeão mundial de selecções que passou pelo futebol português.
Não me interpretem mal. Sempre gostei do Polga. Nos tempos que correm, em que a união entre os clubes e os seus jogadores dura tanto ou menos do que os casamentos de Henrique VIII ou o estado de graça do Patric, é cada vez mais raro assistir à ascensão, consolidação e declínio de um jogador no mesmo clube. O normal nos clubes portugueses é presenciar a ascensão de um jovem prodígio e vê-lo consolidar-se noutro lado qualquer. Excepto se o jovem prodígio for o Ronny. Aí, o normal será presenciar o declínio contínuo do jovem prodígio até ao ponto em que nós, na bancada, começamos a pensar que até um escaravelho-bosteiro dominaria melhor a sua bola de excrementos do que ele.
Com Polga, vimos o ciclo de vida todo. Transpirava classe em 2003. Fez imensa falta na final da Taça UEFA em 2005, naquele que foi o maior erro de Peseiro. Aprimorou-se em 2005/2006 (para mim, a sua melhor temporada). Manteve o nível até 2007. Formou uma dupla de respeito com Tonel e foi responsável por duas das melhores temporadas defensivas da história do Sporting. Desde então, porém, tem perdido o viço como as rosas de Malherbe, os editoriais do Vítor Serpa ou o juízo do João Gabriel.
A lista de erros clamorosos ocuparia o resto da página virtual deste blogue. Só no ano passado, custou golos em Belém, em casa com o Braga e o Benfica. Na terrível eliminatória com o Bayern, falhou mais do que qualquer outro. Este ano, já acumula duas baldas em três jogos oficiais. Falhou com o Twente. E falhou ontem duas vezes (a segunda não deu golo por acaso). Antes de qualquer outra mudança cosmética, a saída de Polga do onze é por isso o primeiro remédio para a retoma.
Custa-me muito dizer-te isto, Anderson, sobretudo porque foste (quase) sempre fiel à causa e te tornaste um dos estrangeiros com mais jogos pelo clube (243). Se os cães pisteiros que andaram a farejar a Maddy pelos botecos do Algarve te apanhassem o cheiro não tardariam a dar sinal. É que, como diria a TVI, a tua carreira exala já um profundo odor a cadáver.

quinta-feira, agosto 13, 2009

A metáfora dos lemingues


O jogo era estúpido e visualmente básico, mas entreteve uma geração de jovens com borbulhas e pouco dinheiro para consumir pornografia consagrada internacionalmente. Buscava inspiração no mito dos lemingues – a tese segundo a qual estes estranhos mamíferos do Árctico se lançam por precipícios abaixo quando verificam que consumiram numa só temporada todo o alimento disponível, inviabilizando os recursos para as gerações seguintes.
Colocado perante o desafio de encontrar outros ecossistemas ou sucumbir à adversidade, o mito diz que o lemingue toma a opção mais fácil: embebeda-se até ficar num torpor eufórico, consome tudo o que resta e suicida-se depois de um exercício inútil de psicanálise e de um telefonema para “As Tardes da Júlia”, na TVI. Os leitores mais atentos notarão que esta etapa da ecologia da espécie não costuma fazer parte dos manuais de biologia. É nesta altura que eu peço a esses leitores para abandonarem a sala. Ena, são tantos! Muito obrigado. Não empurrem. Há tempo para todos. Os quatro que ficaram podem aproximar-se do palco para ficarem mais quentinhos. Vamos lá continuar.
Ora, no jogo de computador, podia-se optar entre o lemingue escavador, o construtor, o trepador, o pára-quedista e por aí adiante. Havia depois o lemingue bombista, que se imolava (por favor, não ler “simulava”, que ainda não comecei a falar do Aimar) com uma bomba. E o mais importante deles todos: o lemingue-travão, que se sacrificava pelos restantes. A sua missão era travar a enxurrada enquanto deixava um ou dois construtores montarem as escadas de acesso à saída. Depois, não restava ao remédio ao jogador que não fosse imolar o valente e deixar a multidão salvar-se pelo caminho já desbravado.
Descontando o facto de o jogo ter sido seguramente concebido por um jihadista radical, havia uma moralidade escondida. Cá vai ela: na vida de uma organização, é tão fundamental aquele que constrói vias de fuga como... o que se auto-destrói com uma bomba amarrada ao cinto. Humm? Não, não era esta a moralidade escondida. Esperem, deve ser esta: é tão importante o chico-esperto que se oferece para ir à frente e pisgar-se logo pela calada como o totó que é voluntário para deixar os outros fugirem enquanto ele se condena ao suicídio. Humm? Também não? Enfim, estou certo de que havia uma moralidade escondida, mas alguém a escondeu bem de mais.
Não preciso de dizer aos senhores que, para mim, a estratégia do Benfica para esta temporada personifica o ciclo de vida dos lemingues. É um jogo de roleta-russa, que pode correr bem, mas tem muitas probabilidades de falhar. Admito que a tese é controversa. Basta dizer que “O Jogo” tem defendido que o Benfica caminha a passos largos para o suicídio enquanto o “Record” aposta que serão conquistados todos os troféus da época, mesmo aqueles em que o Benfica não participa. Já “A Bola” não conseguiu produzir um comentário em tempo útil, uma vez que não tinha ainda recebido do Benfica instruções sobre a opinião que deverá debitar.
À partida para mais uma época (que, para os mais distraídos, começa só amanhã. Ou, por outras palavras, só se começam a dar pontos às vitórias a partir deste fim-de-semana), a curiosidade reside em saber em qual dos cintos vão ser amarradas bombas se chegar a altura de carregar no botão de auto-destruição.
Eu aposto no Rui, da Damaia.

Não perca a crónica de amanhã, intitulada: “Esconde as ampolas, Jorge. Vêm aí os homens do controlo!”

quinta-feira, agosto 06, 2009

Pelos tornozelos morre o peixe

Nos vales soalheiros do concelho de Proença-a-Nova, onde os agricultores arrancam a custo do solo o canabis que põem na mesa e onde o Rui Veloso procura palavras que rimem com geleia e açafrão, concentram-se condições físicas únicas para o florescimento de uma fruta especial. Os antigos chamam-lhe a ameixa do tornozelo, mas, nos supermercados, ela é vendida apenas como rainha-cláudia.
Este ano, trouxe da terra duas caixas de ameixas do tornozelo. É um fruto particular, uma iguaria que deve ser consumida com parcimónia ou, se preferir, não é uma ameixa para javardos ou para alarves.
Se comer apenas uma, é provável que ainda chegue a tempo à luxuosa casa-de-banho da sua moradia (se me estiver a ler em Cascais) ou à fossa aberta no chão a meia dúzia de metros da entrada da sua caverna (se o amigo leitor pertencer aos No Name Boys).
Comendo duas, é provável que se borre mas talvez ninguém dê por isso, permitindo-lhe manter alguma dignidade perante familiares, amigos e funcionários (no caso do amigo leitor de Cascais) ou perante o seu agente de liberdade condicional (no caso do amigo leitor No Name Boy).
Com três, porém, temo que o leitor se torne uma personagem involuntária de uma reencenação do dilúvio bíblico, passando a ser conhecido maldosamente no condomínio como o cagão barbudo do 1.º D (ler por favor o post anterior para melhor contextualização). Verá então que o nome antigo tem total justiça: esta é, de facto, a ameixa que o faz baixar as calças até ao tornozelo [julgo que é por passagens rudes como esta que o meu nome não foi ainda proposto para o Grémio Literário. Nota mental: mandar uma caixa de rainhas-cláudia ao presidente do Grémio]
Como isto ainda é um blogue de bola e eu só recebo se falar de futebol, submeto ao escrutínio dos senhores a tese de que os clubes cheios de dinheiro (como o Real Madrid ou o FC Porto) ou aqueles que fingem ter dinheiro (como o Benfica) arriscam um destino semelhante ao do glutão que se atira avidamente a demasiadas ameixas do tornozelo. Demasiados reforços no mesmo defeso costumam dar indigestão, sobretudo em intestinos pouco dado a excessos. Seja no início ou no fim da temporada.
Pelo menos, isso é o que os esfomeados do outro lado do bairro gostam de imaginar enquanto esgravatam uma raiz do solo e pensam nos ricos que usufruem de refeições com três pratos: “Vais ver, filho. No fim, vai tudo parar à mesma fossa...”

quarta-feira, agosto 05, 2009

90 minutos a negociar com o diabo

Aos 5': Zeus, bom Zeus, prometo que não volto a comer com a boca aberta se virares isto a nosso favor

Aos 30': Zeus, bom Zeus, não volto a usar a escova de dentes dela para desentupir a torneira do lava-louças de duas cubas

Aos 60': Zeus, bom Zeus, não volto a cortar as unhas dos pés na sala.

Aos 75': Zeus, bom Zeus, não volto a cortar as unhas dos pés com a tesoura de trinchar o frango

As 90': Zeus, bom Zeus, é a última promessa - não corto a barba até ao Natal se isto ainda virar.

Aos 94': Gulp!!!

E assim cá estou, iniciando a griffe 2009 que fará sensação nas passerelles de todo o mundo.

Senhoras e senhores, o look operacional das FP-25 voltou a estar na moda. Faz comichão? Faz, sim senhor. É repelente? Admito que sim. Afasta os amigos? Não digo que não.
Mas vale bem o sacrifício.

sexta-feira, julho 31, 2009

Consultório jurídico

Esclareçam-me uma dúvida. Como empatámos a zero com o Twente em Alvalade, precisamos no mínimo de um empate com golos na Holanda, certo?
Se eu interromper o próximo jogo à pedrada, depois de forçar a entrada no estádio, o árbitro interromperá o jogo, certo?
Perante o impasse, o presidente do Conselho de Disciplina da UEFA, que também é presidente da Casa do Sporting de Enscheide, atribuirá derrota por 0-3 às duas equipas, certo?
Com esse desfecho, empataremos o jogo de lá a 3-3, certo?
Nessas circunstâncias, qualificamo-nos para a próxima ronda pela vantagem dos golos marcados fora, não é?

quarta-feira, julho 29, 2009

Onde se fala de Ulf, o apalpa-rabos, e de Gobern, o enfarda-empadas


Em 1843, o padre William Miller, um baptista (embora o tradutor automático do Google insista que era o padre William Baptista, um Miller), previu o regresso de Jesus à Terra rapidamente seguido do fim do mundo. Até ao dia 21 de Março do ano seguinte, de acordo com a previsão, o planeta implodiria.
Ora, um dos problemas da malta que prevê coisas apocalípticas como o fim do mundo, a destruição do planeta ou a nudez da Maya na capa da FHM, é a prova. No dia 22 de Março de 1844, Miller acordou a sentir-se ligeiramente tonto, mas, após olhar pela janela e avistar a manada de gente enfurecida que caminhava no seu encalço com forquilhas e tochas (uma espécie de congresso dos No Name Boys), fez como a Qimonda e prorrogou o prazo por mais um mês, até 18 de Abril. A 19 de Abril, voltou a adiar até 22 de Outubro. A 23 de Outubro, alguém lhe disse que era capaz de ser de mais e Miller concordou que o evento previsto tinha ocorrido no céu, e não na Terra. E era mais metafórico do que literal. No que toca a adivinhos, Miller provara ser o Nuno Gomes da equipa de Nostradamus. Após três falhanços escandalosos, pediu a substituição.
Compreensivelmente, alguns dos militantes que tinham aproveitado o Fórum TSF para expiar publicamente os seus pecados ficaram aborrecidos; outros, comovidos com as três previsões falhadas, fundaram uma fé sobre estes alicerces duradouros. E assim nasceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
O senhor da foto chama-se Ulf Buck. Segundo uma edição de 2003 do “Correio do Minho”, Ulf é alemão e é cego. Diz também que é parapiscólogo e consegue prever o destino de qualquer cliente desde que lhe possa apalpar a padiola. O “Correio do Minho” não diz, mas é evidente que Ulf tem outra qualidade para além de ser alemão e cego. Ulf logrou cumprir uma das aspirações mais antigas da humanidade: poder viver livremente da apalpação do rabo dos outros e ainda daí extrair rendimentos. Desconheço a designação profissional que Ulf inscreve nos ficheiros das finanças, mas é um trabalho honesto e alguém tem de o fazer. Há muito acidente escondido em pregas, fístulas e verrugas inconfessadas (Não leve a mal esta digressão pelos caminhos tortuosos da proctologia, eu sou como os malucos e digo a primeira coisa que me vem à cabeça).
Em Portugal, aparentemente, também há adivinhos, mas menos requintados. Submeto ao escrutínio dos senhores que João Gobern é o padre Miller dos nossos tempos. Todas as semanas, o cronista do “Record” lida igualmente com profecias escoradas em folclore e palermice e explora a ingenuidade dos tontos que o lêem. Como eu.
Há dias, na televisão, Gobern previu que o FC Porto tem 55% de probabilidades de ser campeão este ano e o Benfica 45%. Deu-me ideia de que se esqueceu de alguém, mas revi o vídeo e fiz as contas várias vezes. Com a certeza matemática que só um estudante de Letras pode garantir, afianço que os números de Gobern completam 100%. Pelo que há um dos três grandes que não tem qualquer hipótese de ser campeão.
Não posso, nem devo, entrar pelo insulto fácil. Gobern, a quem Pinto da Costa chamou em Junho o “cronista obeso do Record”, não o merece. Afinal, ele tem uma relação de peso com as forças do Alem. É o peso-pesado da adivinhação e vale o seu peso em ouro (prometo não abusar).
Ora, João Gordern (foi a última, prometo. Enfim, prevejo que prometo) apostou a avantajada reputação neste cálculo de probabilidades, após observar as pré-épocas dos dois rivais do Sporting. E como sucede com o padre Miller, a previsão terá alguns meses de validade até ser testada pela prova definitiva.
Com pena, não creio que alguém venha a estabelecer uma fé religiosa em torno de João Gobern: a fazê-lo, seria sem dúvida a Igreja Adventista do Sétimo Prato ou a Igreja Universal do Reino da Empada. Melhor seria que Gobern se tivesse dedicado à apalpação para adivinhar o futuro. Dá ideia que o prestígio jornalístico de Gobern é capaz de ter rabos de palha.

quarta-feira, julho 22, 2009

Resposta equivalente

José Eduardo Bettencourt não contava seguramente com um caso destes nas primeiras semanas do mandato, mas a bomba rebentou-lhe na mão e o presidente leonino tem agora oportunidade de mostrar de que fibra é feito. A decisão absurda do Conselho de Disciplina da FPF, à medida e convenîência de quem provocou os desacatos, deverá ter uma resposta proporcional por parte do Sporting.
Passe a temeridade, cá vai o meu contributo: que se recuse toda e qualquer convocatória de jogadores do Sporting para as selecções nacionais nos escalões de formação. Se é esta a linda ideia que a FPF tem do futebol de formação, pois que faça selecções com os recursos dos outros.

Já agora, no último êxito de uma selecção portuguesa em competições internacionais, no já longínquo ano de 2003, os sub-17 sagraram-se campeões europeus com quatro jogadores do Sporting no onze-base. Curiosamente, dos 18 portugueses utilizados nesse Europeu, só três se mantêm no clube de origem - João Moutinho, Miguel Veloso e Carlos Saleiro. São do Sporting.

terça-feira, junho 30, 2009

Se for verdade...

... o rumor que para aí anda e a FPF se prepara para atribuir derrota aos dois clubes, entregando o caneco ao Benfica, só nos resta repetir a frase lapidar de "A Canção de Lisboa": vamos embora, filha, que isto é tudo uma aldravice.

domingo, junho 28, 2009

Alcochete

Se - e sublinho se - alguma culpa o Sporting ontem teve, foi em não mandar vedar a entrada da Academia de Alcochete com polícia de choque.
Facto: havia um limite de capacidade do recinto que não podia ser excedido. Não cabe ao clube visitante escolher onde se deve jogar - excepto, claro, se o visitado for o Estoril.
Facto: o Sporting usou o mesmo princípio de atribuição de bilhetes que fora colocado em prática nos jogos de andebol e futsal. É pouco justo, mas não há grande moralidade para criticar o sistema já usado no Pavilhão da Luz.
Facto: como já aconteceu noutras ocasiões, não sobraram bilhetes para o clube visitante. É triste, mas é assim.
Facto: quem vai sem bilhete a um estádio que sabe estar lotado vai à procura de problemas. Quem força barreiras, destrói carros e lança pedras indiscriminadamente não merece ser protegido pela GNR.

Admito, sem vergonha, que o Sporting deveria ter endereçado desculpas ao Benfica se Jorge Jesus foi de facto agredido em Alcochete. Mas as declarações de Rui Costa são de uma barbaridade que me espanta, mesmo tratando-se do sucessor de José Veiga.
Costa pode refilar com o recinto exíguo. Pode lamentar a ausência de bilhetes para o Benfica. Assistem-lhe esses direitos. Mas aceitar os conflitos como inevitáveis porque não havia bilhetes sugere que o Benfica já lavou as mãos dos NN e não consegue travar a sua claque fantasma de trogloditas.

Como se sai agora deste embrulho? A solução do jogo em campo neutro é absurda - não foi o Sporting que falhou na organização do encontro e não pode, por isso, ver reduzida a vantagem de jogar em casa, até pelo precedente que isso criaria para resolver futuras deslocações difíceis. A atribuição de derrota a um dos clubes não faz igualmente sentido.
Restam dois caminhos: jogar à porta fechada os minutos em falta. Ou não entregar o título deste ano. Seria o castigo mais pedagógico para quem dá tanta importância a um caneco nos juniores.